quinta-feira, 30 de agosto de 2007

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

vigília





duas noites sem dormir...

um caco!!

um naco, um teco

de sono, um trapo,

farrapo sem casaco.






atalho






um curva.

é subida, claro!

você esperava o quê?

ali passam gentes

mãos e braços, corpos

pernas, bocas, corações

todos eles indigentes


terça-feira, 21 de agosto de 2007

a cadela




foi buscar a terrina

sentou-se sobre os quartos

levantou a pata dianteira direita

baixou um pouco a cabeça

ganiu baixinho, resfolegou

estava faminta

não podia nem andar direito

com as pernas fracas

mas estava ali,

obediente ao seu dono

cabisbaixa

feliz em ter uma mão forte

uma voz que a comandasse

não sabia mais porque aquilo

só sabia que estava com fome

eram os instintos gritando em sua alma

e seus desejos eram mais fortes que ela

e sua vida não lhe pertencia

seu dono chutou a terrina por duas vezes

estava irado

pegou uma tira de sola e deu no lombo

ardeu

outra e mais outra lambada

agora eram três lanhos nas costas

ele não sabia mais porque batia

ela, tinha certeza do porquê apanhava.





quinta-feira, 16 de agosto de 2007

após a ressaca




dia seguinte: hoje a vontade de sair continua a zero. embora a tevê esteja aqui bem perto eu não ligo. que fazer?


a pós-ressaca também é complicada.
as lembranças revisitadas.
os valores revistos e nada mudou. nada me fez melhor ou pior. apenas permaneço e a minha imagem se desgasta no espelho do banheiro. narciso, teseu, prometeu. nem sei mais quem sou. desejo ter ido à lua. o sol me chama mas o corpo se embriaga pela leitura e não se apresenta à rua. o melhor é que hoje, mais que ontem eu não lembro de nada. melhor. se não lembro é porque não fiz!
assim dizem os verbos, de maneira assaz convincente.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

ressaca

ai!
dor
dores
sono
enjôo, angústia, solidão, nervosismo, nariz entupido
a lembrança da amada que se foi ronda a mente enevoada e se mistura com o novo amor que será eterno e sempre mais puro que todas as coisas sobre a terra. sobre os passos que dou nessa terra suja que se entranha nas minhas unhas. eu. eu, bêbado? nem lembro onde estava e nem o que fiz. lembro que perguntaram-me se estava bem, se queria comer. deixaram-me piedosamente num táxi e foram embora. piedosamente?? que nada!! piedade é dinheiro no bolso e uma costela quente esperando na cama, a roupa de dormir ali, esperando também. esperando a roupa úmida de chuva e vento ser tirada da carcaça cansada de amores vãos e esperanças singelas nas tardes de sábado. Para onde, amigo? vou pra casa. resposta correta. onde? rua ... sabe onde fica? sim, ele sabia mas não respondeu. apenas um leve balançar de cabeça indicava seu pensamento. as luzes da cidade nada significavam naquela hora. nem as putas estavam mais na rua. tudo deserto e eu ali, naquele táxi, indo piedosamente para casa. tentava lembrar porque havia vomitado. vomitei mas não me sujei, era uma vantagem. não teria que lavar mais uma roupa. a cabeça ainda dói. não tenho ânimo para levantar e fazer aquele relatório que prometi fazer há dois dias. continuo a protelar essa tarefa. tento pensar em algo e apenas uns fragmentos na memória. acho que estou ficando velho. não bebo mais. merda, porque tem sido assim desde setembro do ano passado? antes eu bebia muito mais e não sentia essas coisas, apenas via as begônias na janela da vizinha e pronto. dormia, acordava e estava tudo em paz novamente. o coração começa a palpitar. mais um efeito colateral. acabaram-se os comprimidos. não tenho força de vontade para ir à farmácia. fica logo ali, na outra rua, mas o problema é ter que vestir uma roupa e pentear os cabelos. que infame. bem que eu poderia ser careca.
mas aí seria um drama. elas não gostam tanto assim dos carecas quanto nós dizemos. elas apenas fazem uso. duplo sentido. pronto, acho que agora estou melhor. quando não digo nada assim é porque estou mesmo muito mal. o telefone insiste em tocar e eu não atendo. é ela. mas também outras pessoas. não gosto de falar. ainda mais assim... ela merece, mas eu respondo por mensagens eletrônicas. ela me ama. eu a amo. não tenho dúvidas como tinha das outras. tenho admiradoras que dariam tudo por esse amor que sinto. mas não posso distribuir sentimentos como se fossem panfletos. somente ela merece. mas o que devo fazer com os sapatos? droga eles estão sujos e molhados. perdi um dia inteiro com dor de cabeça e sensibilidade à luz. não saio de casa. mas preciso sair. que drama! onde estive afinal?
não lembrarei jamais. mas se eu não lembro, é porque eu não fiz, assim dizem os verbos.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

saia verde


Dezessete horas. dezessete horas e quinze minutos. lá estava ela. diferentemente dos antigos encontros, hoje ela veio vestida com blusa verde oliva e saia. uma saia justa no quadril, reveladora de uma forma bastante agraciada na qual eu nunca havia reparado. nem os Verbos haviam reparado nisso. repararam hoje. uma saia que deixava entrever, pelo corte, suas pernas torneadas. pernas de loba que é, mas pernas bem formadas, firmes, fortes. usava sandálias altas e talvez isso ajudasse a formar um derrièrre mais pronunciado. do jeito que vira mania nacional. mesmo assim, não era uma saia devassa. sem maquiagem, como sempre. aliás, uma única vez veio com batom nos lábios. uma única vez a vi assim e era uma batom muito discreto. ela é muito discreta. casada. doutora. casada com um doutor. não, não é médica nem advogada. é doutora mesmo. doutora que recebeu doutorado em título de papel passado, sessão de fotos solenes e um drinque para comemorar (talvez um uísque envelhecido, bem forte, com um beijo no final). silenciosa como as águas no fundo do cânion, chegou e escreveu algumas coisas. li tudo. já conhecia aquelas palavras há meses. casada com um doutor. doutora. e eu ali, absorto e os verbos repararam na saia dela. não, eu reparei mas sem desejo. apenas com os olhos e a testa, sem o âmago biológico de homem. ela é casada. eu também sou. mas essa não é a questão. a questão é que nem eu e nem os Verbos havíamos reparado naquilo antes. já me falaram dos seios. volumosos. maduros. seios de loba. seios que eu nunca desejei pois sou casado e ela é uma doutora. de papel passado, tese, antítese, excelente conceito, banca examinadora e sei lá o que mais é preciso pra ser doutor. mas aquela saia esverdeada, feita de retalhos grandes do mesmo tecido fora uma surpresa. como uma simples peça bem-escolhida pode mudar uma loba comum em loba mortífera e silenciosa que anda pela mata ao entardecer? eu não disse isso. eu escutei uma voz a dizê-lo. eu apenas a vi. ela é uma doutora e eu sou casado. o problema é que os Verbos falam demais. e eu não disse nada. eu apenas vi a saia dela. os Verbos é que falaram dela e das suas pernas bem feitas. eu sou casado e não ligo pernas de loba. eu apenas ligo verbos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

horizonte falido






Sei que vais voltar

atrás de reparar teus erros,

porém a hora avançada e a caravana que passou

deixaram uma nuvem de poeira que seus olhos

jamais irão devassar.



café frio

A caneca me entende
dentro de sua vaziez
mudez e surdez.
dedos agonizantes ferem brancas letras
o negrume por trás delas
idioma: português
gênero: insano
estilo: desmetrificado
a noite se mistura ao passado
e desta canja rala e fria
talvez saia algum poema belo
jamais publicado.




terça-feira, 7 de agosto de 2007

o fanal




tua tez, serena noite

frio cortante; o vento te sacode.

o feixe de folhas me acolhe

como o palheiro a uma agulha.

serena encosta,

meu olho te vê pela janela

sereno fico frio

sereno ando nas tuas ruas

insólito barco em doce mar revolto

e marco os pontos cardeais

na tua costa

na pedra íngreme

perigosa escarpa

da tua boca.

sábado, 4 de agosto de 2007

embriaguez




luzes.


a calçada.


as formigas, a areia no meu rosto


as mãos sujas. dinheiro amarfanhado nos bolsos


e uma sensação de desamparo me corta em frente e VERSO.



* embriaguez poética é gêmea da pior ressaca !

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

porta-retrato



noite fria, tudo quieto.

frios ais semeiam saudades;

só o café, já morno,

aquece meu espírito torto

enquadrado, teu rosto sorri

enquanto choro.
.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Bar do Gino






Tantas garrafas me olham
que até fico tonto!







* o Bar do (Hi)Gino existe e fica próximo ao Elevador Lacerda.