quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

o advogado e o poeta

poiesis sobre a juris em meios às sucuris do sertão
serão luzes a luzir nos fifós esfumaçantes e os libelos
acelerados em paixão, acalmados de ilusão, abertos
em apelos apertados de cantação, livres de pensar
e repentinamente entoando em coro a mesma canção!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A poesia é um porto seguro em pleno oceano!

Mar em Fúria

"divida o mar comigo, senão a coisa complica!"

deixes um pedaço do mar
pra mim.
eu pertenço ao mar
e do mar não te dou
meus pedaços azuis!
dou-te pedaços de céu
para completares teus dias
dou-te pedaços de ar
para fartares tuas nuvens
mas não mexas com meu mar
que te racho em partes
com minha pedra de corisco
nas minhas pedras te lanço
com meus ventos te espraio.

sábado, 12 de setembro de 2009

Sua saída

Você parte e me parte em vários
em cada quadro de nossas vidas
em cada pedaço de sol, mar
em diversos dias de luz e sonhos
cada momento até aqui
foi único
cada respiro, cada silêncio
cadafalsos que armastes
onde subi e me amarraste
impiedosamente
esperaste que eu a amasse
e me tiraste a única coisa que me prendia à vida.
Não o banquinho:
- o amor.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

digitais

Agradeço por me dares estes versos
escritos entre goles de bebida
cantados em frente ao velho espelho
saídos de mim, como falanges soltas
dos dedos.

sequencia

desejo beijar e sentir tua carne
boca na boca, pele na pele
fazendo salivas loucas!

poema de um verso só

Vou escrever poesia em teu corpo inteiro só para ter que apagar depois, sem usar as mãos!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Antes que o poema nos trague

vejo a rosa, toda prosa
em verso e canção
somente ela se rima em mim
e fala de cada coisa:
carne, perna, xadrez
apócope, cinema, coração
pesquisa, conhaque, alemão
imposto de renda
linguista, jasmim, catalão.


a rosa toda prosa e verso
rima em meu rosto olhares
palavras, afetos, venenos
dodecassílabos, monólitos, romanos
grécias e naus em pleno mar.


somente a rosa enfeitiça
sereia, ciclopes, palomas, gibraltar
tufões, clonagem humana
contagem de sílabas, hiatos
metrificação incompleta, síncopes.


a rosa não me sai do pensamento
ela inunda cada linha - a língua
cada barco - lexia - vira poesia
no mar de sua ciência.

como virão as horas amanhã?

quando nos teus cabelos perder meus dedos
e o perfume deles me embriagarem
e quando tua boca disser entre sussurros
o meu nome cercado de juras
quando nos teus olhos brilhantes a minha imagem
percorrer toda a retina até a macula luthea
quando, novamente, nestes cabelos negros
como o escuro da noite em meio ao mar sereno
estiver afundado e adormecido, saberás:
o guerreiro repousa ao teu lado
da mais fatigante e terna batalha
que mil vezes terás
que mil vezes vencerás
que mil vezes perderás
e de todas elas terás as lembranças
mais doces, cálidas
ou tórridas e viciosas
e pelas janelas irás procurar o dia
ou a penumbra e apenas verás as horas
que passaram voando com seus ponteiros
em forma de asas.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

gato persa

Sérgio Bezerra

assim fico a observar o mundo
tal qual um gato persa:
imóvel e branco
na janela de um velho sobrado
altivo, completamente senhor de mim
e escravo dos teus passos
com meus grandes olhos
esnobando a vida e as horas
que passam através dos
esparsos pelos do meu bigode.

terça-feira, 30 de junho de 2009

No buzu II - ou - curtas intervocálicas

Sérgio Bezerra

Para todo acento: vogal
Para todo sinal: sentido
Para todo poema bandido
Há um cotovelo dolorido.

Para sol que nasce: nascente
Para todo elo: corrente
Para todo olho: transplante
Para todo verso: repente.

Para a palavra proferida
uma síncope escondida
uma variante subtraída
pela fonética rendida.

para todo osso: cachorro
para toda cabeça: gorro
quase tudo que reluz é ouro
se calar minha voz, morro!

terça-feira, 21 de abril de 2009

A ronda da Loba


Dezessete horas e quarenta minutos.
Hoje cheguei um tanto atrasado ao covil e a loba já estava lá, sorrateira. Não, hoje nada de saia verde. É bege. Ou cru, como querem os Verbos. Achei-a um pouco mais 'cheia'. Hoje meu olhar é menos poético. É mais realista no sentido não-literário da palavra.
Notei que há alguns 'defeitinhos' - próprios das mulheres reais - e vi-os de pronto. Gentil e serena como nos encontros anteriores; resolveu atender ao incômodo telefone móvel - deveras constrangida. A loba olhava-nos com um ar superior. Acuava-nos como se ela fosse muitas, em matilha e, nós, a maioria, fôssemos apenas um. Um único cordeiro assustado.
A mortífera loba caminhava ao entardecer por entre nossas mentes e olhos. Deixava-me, particularmente, paralisado. Enfim lembrei que é doutora. Sim, de papel passado e reconhecimento público lavrado em ata acadêmica.
O Verbo, transitivo, olhava-me e ria do meu temor e admiração. Eu, um bezerro, já quase novilho. Vítima potencial daquela loba.
Assim dizem os Verbos, oráculos das letras.

(2007)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Tudo termina em ando


Comecei a vida chorando

Apanhando

acalmando

depois sorrindo e mamando, manhando.

Minha infância, foi caindo e tropeçando

escorregando

vidraças quebrando, ladeiras rolando.

Adolescente, vivi estudando

na cara a acne brotando.

Vivo a vida me cansando

namorando
trabalhando
noivando
estressando
e, quem sabe, um dia casando.

Um dia, virá o samba final:

A família me enterrando
As carpideiras chorando
As baratas me rondando
e eu, no além
cagando e andando!!!!!