terça-feira, 21 de abril de 2009
A ronda da Loba
Dezessete horas e quarenta minutos.
Hoje cheguei um tanto atrasado ao covil e a loba já estava lá, sorrateira. Não, hoje nada de saia verde. É bege. Ou cru, como querem os Verbos. Achei-a um pouco mais 'cheia'. Hoje meu olhar é menos poético. É mais realista no sentido não-literário da palavra.
Notei que há alguns 'defeitinhos' - próprios das mulheres reais - e vi-os de pronto. Gentil e serena como nos encontros anteriores; resolveu atender ao incômodo telefone móvel - deveras constrangida. A loba olhava-nos com um ar superior. Acuava-nos como se ela fosse muitas, em matilha e, nós, a maioria, fôssemos apenas um. Um único cordeiro assustado.
A mortífera loba caminhava ao entardecer por entre nossas mentes e olhos. Deixava-me, particularmente, paralisado. Enfim lembrei que é doutora. Sim, de papel passado e reconhecimento público lavrado em ata acadêmica.
O Verbo, transitivo, olhava-me e ria do meu temor e admiração. Eu, um bezerro, já quase novilho. Vítima potencial daquela loba.
Assim dizem os Verbos, oráculos das letras.
(2007)
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Tudo termina em ando
Comecei a vida chorando
Apanhando
acalmando
depois sorrindo e mamando, manhando.
Minha infância, foi caindo e tropeçando
escorregando
vidraças quebrando, ladeiras rolando.
Adolescente, vivi estudando
na cara a acne brotando.
Vivo a vida me cansando
namorando
trabalhandonoivando
estressandoe, quem sabe, um dia casando.
Um dia, virá o samba final:
A família me enterrando
As carpideiras chorando
As baratas me rondando
e eu, no além
cagando e andando!!!!!
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