domingo, 29 de julho de 2007

como fazer um drink



ponha bastante gelo picado num copo alto

1/2 limão cortado à francesa

álcool da sua preferência
leia o rótulo



misture tudo e vá para a janela

degluta com voraCidade
relaxe.



* o consumo exagerado de poesia etílica pode causar problemas de saúde
** o limão da imagem é apenas ilustrativo, não está cortado à francesa!


D e f e n e s t r a r



Tua boca, ali tão distante
E eu aqui fogo errante
Fogo fátuo, me transmuto
Me queimo, me afago, me apago
No apego do teu gesto
Na sombra do teu corpo
Ainda dizes que não presto:

e lança meu ego do oitavo.



* boca = veveka pedreira, defenestrar = anne caribé
interstício = sérgio bezerra




Animal de sangue quente



Uma parede de vidro separava as pessoas que olhavam abismadas.
Uma poça de sangue. Pequena.
As máquinas rugiam e soltavam relampejos enquanto a tarde escorria no relógio. A varredora explicava que aquele tipo de crime sempre acontecia por ali. Era comum. Pedia que ninguém se assustasse.
Diante daquela aglomeração, enfiei a cabeça por entre outras e vi, em frente ao balcão de fotocópia: era um gato com um rato entre os dentes.



sibilo


Sssspp !!
Cortou o ar
uma flecha azul.



Homem da Rampa





Pescador por escolha.


Eletricista de profissão; soldador, torneiro mecânico, recepcionista, gráfico, ex-ladrão, comerciante, jornalista, pai de família, marceneiro, mecânico, bêbado.

Tem de tudo na Rampa.
Mas...

A rampa está vazia.

Onde se ouvem os antigos gritos sob o sol a pino?

Onde estão os saveiros carregados de potes, pimentas de cheiro, da Costa
do mar, do recôncavo, da Baía

onde está o peixe ainda ofegante?

onde está ele,

pescador?
marujo?

Seja lá o que for.

Barcos sem rumo, homens sem destino

Sem paradeiro, sem bússola, sem cabeço de amarração.

Com a cabeça no mar e as mãos nas nuvens, nos anzóis, nas facas amoladas, na rede

Vazia de peixes que morrem aos montes

E deixam mesas vazias, bocas vazias

Barrigas vazias


E cheias de cachaça.
Cheias de mentiras
E artimanhas
E sorrisos
E saudades.


- Só volto depois de amanhã, mulher.

- Hoje tem vento Leste!



* Baía = Bahia ou o q desejares entender. O texto agora é teu.



RUBI


O arrebol rubro e


minhas palavras grenás

avermelham teu sangue azul de princesa.




* tipo "O" positivo



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Vejo a Rampa
Onde toma-se banho salgado, lava-se o peixe
corta-se a mão


Onde tomava-se navalhada na carne, na alma
escarrada do fumo de corda dos saveiros
da Ilha de Maré,

de Valença com seu camarão defumado
da praia de Guaibim.

Chapa de frente, meia lua - olha o côco, dona!

Vejo ali o Forte de São Marcelo imponente
Dono da Baía, dos navios

De Todos os Santos

E encantos
de São Salvador ardente de pimenta da costa

Ardente acarajé, alfândega, najé

Roda de capoeira, o cais, navio

Rampa do Mercado onde se sabe que
todo trabalho do homem é para sua boca.


Vida mansa, moço, não volta mais.