terça-feira, 26 de abril de 2011

sonoro epitáfio

No canto da sala
eu ensaio, mudo
um halo de sons
presos na garganta

então você surge
nota dissonante:
traz o pensamento

e faz do dia noite
do ar, esteira de deitar
a cama palco de encenar

aqui jaz um músico
que jamais compôs
que jamais te tocou
nem parou de sonhar.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010



O Sextas Poéticas é um encontro quinzenal que acontece para recitar, cantar, contar e viver a arte em suas várias possibilidades; capitaneado por um grupo de estudantes do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia e uma de pedagogia, da Uneb, no Pátio do IL/UFBA. O ‘Sextas’ ocorre pontualmente às 18 horas, obviamente às sextas-feiras.

Em 2009, alguns membros desse grupo reuniam-se em esteiras, sobre a grama, em frente ao PAF III e à Biblioteca reitor Macedo Costa para recitar, cantar e conversar sobre poesia, arte e cultura no fim de tarde das sextas-feiras. Um dia surgiu a idéia de “entrar” no prédio com aquele encontro, ampliando-o.
O pátio interno de Letras, então, encontrava-se sem uso algum; eles reuniram-se e decidiram dar início à atividade com o objetivo de reunir artistas que transitam (ou não) pelo espaço dessa instituição (Ufba).

No Instituto de Letras/UFBA, principalmente na área de Literatura, existe um grande números de pessoas – professores e alunos – que escrevem textos em variados gêneros, mas não tem um espaço específico para demonstrar seus trabalhos. A proposta é tornar o ambiente acadêmico mais dinâmico e colorido, num espaço onde a Arte seja cada vez mais vivida, tendo entretanto, a poesia como carro-chefe.

Em 2010, 12 edições já aconteceram (com bastante sucesso); várias foram as formas de manifestações artísticas e culturais apresentadas no evento: poesia, música (Mestre Timbó; Cícero Mayor, Rebeca Lima e outros alunos); capoeira angola; grupo de percussão Mata Inteira (Ufba); poetas convidados - José Carlos Limeira, Núbia Paiva, Joana Guerra - e contistas como Fábio Mandingo, além de performances teatrais, clowns e dança.

O grupo organizador do Sextas Poéticas é composto por: Jocevaldo Santiago, Mario Fausto, Sérgio Bezerra, Silvana Machado, Uilians Souza, além de Carla Oliveira (Uneb).


Abaixo seguem os links do vídeo de divulgação do evento, do perfil no Orkut e do blog:

YOUTUBE - http://www.youtube.com/watch?v=QHz83FOWvuA
Orkut: - http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?origin=is&uid=4967254887021675008


Blog: - http://sextaspoeticasufba.blogspot.com

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sexta Poética, 19/11, UFBA, Letras, Ondina, 18 horas.

Um brinde
Um rubro arrebol (espero que não chova) mas se não for vermelho
que você se mova e vá nos ver, vá ver, ouvir, ler nas entrelinhas ou até, quem sabe, ver estrelinhas nas palavras dos poetas.
Pois a lua estará alta.
E depois de tudo a gente deve se mostrar, sem medos.
Os dedos anunciam o caminho: é ali!
Chamem o poeta!!!

Risível

Saco de risos!
Poesia
Palhaçada
Palhaçaria
Sorria!!!!

domingo, 28 de março de 2010

CAPOEIR_AGEM





banda de costas

sossega, rolê


(ja vou embora)


volta do mundo


queda de rins


bênção


que o mundo dá


solinge


parabólicas


paraná, auê, pandeiro


perna pra todo lado.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

o advogado e o poeta

poiesis sobre a juris em meios às sucuris do sertão
serão luzes a luzir nos fifós esfumaçantes e os libelos
acelerados em paixão, acalmados de ilusão, abertos
em apelos apertados de cantação, livres de pensar
e repentinamente entoando em coro a mesma canção!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A poesia é um porto seguro em pleno oceano!

Mar em Fúria

"divida o mar comigo, senão a coisa complica!"

deixes um pedaço do mar
pra mim.
eu pertenço ao mar
e do mar não te dou
meus pedaços azuis!
dou-te pedaços de céu
para completares teus dias
dou-te pedaços de ar
para fartares tuas nuvens
mas não mexas com meu mar
que te racho em partes
com minha pedra de corisco
nas minhas pedras te lanço
com meus ventos te espraio.

sábado, 12 de setembro de 2009

Sua saída

Você parte e me parte em vários
em cada quadro de nossas vidas
em cada pedaço de sol, mar
em diversos dias de luz e sonhos
cada momento até aqui
foi único
cada respiro, cada silêncio
cadafalsos que armastes
onde subi e me amarraste
impiedosamente
esperaste que eu a amasse
e me tiraste a única coisa que me prendia à vida.
Não o banquinho:
- o amor.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

digitais

Agradeço por me dares estes versos
escritos entre goles de bebida
cantados em frente ao velho espelho
saídos de mim, como falanges soltas
dos dedos.

sequencia

desejo beijar e sentir tua carne
boca na boca, pele na pele
fazendo salivas loucas!

poema de um verso só

Vou escrever poesia em teu corpo inteiro só para ter que apagar depois, sem usar as mãos!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Antes que o poema nos trague

vejo a rosa, toda prosa
em verso e canção
somente ela se rima em mim
e fala de cada coisa:
carne, perna, xadrez
apócope, cinema, coração
pesquisa, conhaque, alemão
imposto de renda
linguista, jasmim, catalão.


a rosa toda prosa e verso
rima em meu rosto olhares
palavras, afetos, venenos
dodecassílabos, monólitos, romanos
grécias e naus em pleno mar.


somente a rosa enfeitiça
sereia, ciclopes, palomas, gibraltar
tufões, clonagem humana
contagem de sílabas, hiatos
metrificação incompleta, síncopes.


a rosa não me sai do pensamento
ela inunda cada linha - a língua
cada barco - lexia - vira poesia
no mar de sua ciência.

como virão as horas amanhã?

quando nos teus cabelos perder meus dedos
e o perfume deles me embriagarem
e quando tua boca disser entre sussurros
o meu nome cercado de juras
quando nos teus olhos brilhantes a minha imagem
percorrer toda a retina até a macula luthea
quando, novamente, nestes cabelos negros
como o escuro da noite em meio ao mar sereno
estiver afundado e adormecido, saberás:
o guerreiro repousa ao teu lado
da mais fatigante e terna batalha
que mil vezes terás
que mil vezes vencerás
que mil vezes perderás
e de todas elas terás as lembranças
mais doces, cálidas
ou tórridas e viciosas
e pelas janelas irás procurar o dia
ou a penumbra e apenas verás as horas
que passaram voando com seus ponteiros
em forma de asas.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

gato persa

Sérgio Bezerra

assim fico a observar o mundo
tal qual um gato persa:
imóvel e branco
na janela de um velho sobrado
altivo, completamente senhor de mim
e escravo dos teus passos
com meus grandes olhos
esnobando a vida e as horas
que passam através dos
esparsos pelos do meu bigode.

terça-feira, 30 de junho de 2009

No buzu II - ou - curtas intervocálicas

Sérgio Bezerra

Para todo acento: vogal
Para todo sinal: sentido
Para todo poema bandido
Há um cotovelo dolorido.

Para sol que nasce: nascente
Para todo elo: corrente
Para todo olho: transplante
Para todo verso: repente.

Para a palavra proferida
uma síncope escondida
uma variante subtraída
pela fonética rendida.

para todo osso: cachorro
para toda cabeça: gorro
quase tudo que reluz é ouro
se calar minha voz, morro!

terça-feira, 21 de abril de 2009

A ronda da Loba


Dezessete horas e quarenta minutos.
Hoje cheguei um tanto atrasado ao covil e a loba já estava lá, sorrateira. Não, hoje nada de saia verde. É bege. Ou cru, como querem os Verbos. Achei-a um pouco mais 'cheia'. Hoje meu olhar é menos poético. É mais realista no sentido não-literário da palavra.
Notei que há alguns 'defeitinhos' - próprios das mulheres reais - e vi-os de pronto. Gentil e serena como nos encontros anteriores; resolveu atender ao incômodo telefone móvel - deveras constrangida. A loba olhava-nos com um ar superior. Acuava-nos como se ela fosse muitas, em matilha e, nós, a maioria, fôssemos apenas um. Um único cordeiro assustado.
A mortífera loba caminhava ao entardecer por entre nossas mentes e olhos. Deixava-me, particularmente, paralisado. Enfim lembrei que é doutora. Sim, de papel passado e reconhecimento público lavrado em ata acadêmica.
O Verbo, transitivo, olhava-me e ria do meu temor e admiração. Eu, um bezerro, já quase novilho. Vítima potencial daquela loba.
Assim dizem os Verbos, oráculos das letras.

(2007)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Tudo termina em ando


Comecei a vida chorando

Apanhando

acalmando

depois sorrindo e mamando, manhando.

Minha infância, foi caindo e tropeçando

escorregando

vidraças quebrando, ladeiras rolando.

Adolescente, vivi estudando

na cara a acne brotando.

Vivo a vida me cansando

namorando
trabalhando
noivando
estressando
e, quem sabe, um dia casando.

Um dia, virá o samba final:

A família me enterrando
As carpideiras chorando
As baratas me rondando
e eu, no além
cagando e andando!!!!!

quinta-feira, 27 de março de 2008

de volta

Venho marcar a ferro
ou a fogo - nem sei
mais do que sou feito
se cuspido ou talhado

vendido a granel
em tonéis de madeira
em taças de estanho
vinho, sal ou mel

arrasto correntes de aço
com os pêlos eriçados
no braço, no rosto
abro um céu de chuva

depois um sorriso
desfaz todo o susto
que levo no limbo
da tua cara séria.

sábado, 5 de janeiro de 2008

escrito com lágrimas


chove aqui dentro e lá fora um sol escaldante

aqui dentro do peito, a enxurrada

das lágrimas que não rolam na face

lágrimas de pedra derrubam um nevagante


as ondas revoltas misturam

mar em fúria com ex-céus azuis

águas turquesa, da cor dos sonhos

ondas espumosas de dor e luz


não há métrica possível

ante a dor verdadeira

se de métrica já desditava

triste é que a desprezo inteira!


sexta-feira, 30 de novembro de 2007

sábado, 3 de novembro de 2007

as duas, de vez!




ocorre-me deliciosa idéia
mas nem posso contar
pitanga e pimenta, as duas
na boca, de vez, gostosas, provar!

pimenta, és ardida, malgrado veludo
agridoce pitanga faz língua travar
fazendo na boca, juntas
a lingua doce, ardendo estalar

pitanga tão rubra, macia, contudo
pimenta verdinha, trincando a ficar
meus olhos de água untas
as faces de cor vão mudar

doida, maluca, louca essa idéia
treslouco, doidinho agora a ficar
pitanga e pimenta, juntas as duas
com a boca, de vez, eu hei de provar!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

a beleza e o dom









cada pessoa exprime a beleza do jeito que sabe
uns pelas mãos, outros, pela voz ou pelo jeito
quem não sabe como fazer, assim já está feito
pois de um sorriso que dá, em todo canto cabe!






charada





pitanga, pimenta... gostosa, arisca.
- quem será a mais bela?
não sei, não me complica:
- serás tu ou será ela??



domingo, 21 de outubro de 2007


agradeço com uns versos soltos
agradeço com uns versos tortos
eu, um anjo caído, ensimesmado
agradeço a visão do paraíso.

(volte sempre)



o pica-flor na flor da pitanga


(seguindo as pegadas do Boca do Inferno)


uma pitanga visitou o beija-flor
que estava quieto no ninho
[que estranho: esse tipo arisco nunca fica quietinho!]
e o intrépido colibri a notou
notou tanto e tão bonita ele a achou
que deixou um beijo singelo no ar
e quis o néctar da sua flor.

mas o peralta incontente se reclamou:
- Pitanga tu és azeda e vens me mostrar
o doce que tens aí escondido e não mo quer dar!
- Eu dou se o quiser, mas a você, bico-doce,
não, não e não! Nem adianta tentar!

[Ralhou a linda fruta sem papas na língua.]
Ainda ofegante de tanto rondar
a fruta agridoce, ele tristemente suspirou.
e, veloz e mudo como sempre, indo embora, se pôs a voar.



como viajar de lambreta

pegue 2 dz de lambretas
lave-as muito bem, passe até uma escova para ficarem bem branquinhas.
corte tomates, cebola, pimentão vermelho e verde, coentro ou salsa e junte às lambretas. separe um pouco deste tempero.
leve a mistura ao fogo cobrindo com água. ponha sal a gosto.
depois de abertas, deixe o tempero cozinhar uns 5 minutos.
faça um molho de pimenta bem forte e adicione o tempero reservado a ele e um filete de azeite extra virgem.

beba o caldo em copo americano
(daqueles de boteco, listrado)
com cuidado para não queimar a língua!

pingue limão e o molho dentro de cada lambreta.
coma com as mãos
na panela mesmo.


aproveite a paisagem

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

cabaré das ilusões



sei lá o que te dizer agora...
que amanhã irei à praia
e que não quero a tua companhia?
devo dizer que não te quero mais?
que teu amor não vale a pena tanto risco?
que dizer de nós dois
nessa escuridão, nesse limbo, onde fantasmas
nos assustam como numa casa maldita e abandonada.
nos perdemos a cada dia. já estamos perdidos
de nós mesmos.
corremos muito perigo à noite
e, sob essa luz vermelha e mortiça
essa luz que tantas cenas tórridas alumiou
tu me diz q sentes saudades
eu te digo que já não sinto mais tanto prazer
e que teu cheiro não é mais o mesmo.
e que as rosas agora devem estar murchas
lá na tulipa de vidro barato que eu te dei de presente.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

ambulatório médico









hoje eu fui ao hospital

não, desta vez não fui acompanhar alguém
fui por mim mesmo
naquele corredor branco
o médico ridiculamente vestido de branco
e serenos olhos azuis

e óculos caindo no nariz
e ele pegou na minha doença
e eu notei que não sou de vidro
e ele foi humano

e ele me mandou tomar cuidado com as mulheres
pois elas querem me esquartejar
para que eu não dance mais


com outra.



à vista


bebo a cerveja
e olho as tábuas do assoalho
deste velho casarão
em plena Cayru
que ninguém mais quer
que ninguém conhece
ou sabe o nome da Fonte
nem que ela e Cravo tem algo em comum
o Jorge, o cacau, as velas de saveiro
fatigadas
sangrentas navalhadas na rampa
na ponteira
meia-lua de compasso
no calço
no fumo de corda
nos cabos de tração
de amarração em terra firme
ou em ferros frios
nos telhados da montanha
que me servem de orgia
em antigos gozos e cartas
um royal flush
um blefe
um tiro
um sorriso de puta
uma cachaça bem curtida
um adeus
um barco
um dia
sem noite
se me avizinha.



o problema não é a mão
mas de quem é o pulso
o fator Rh, a assinatura, cpf e rg
é de quem sai a grana pro café
de quem sai a cerveja, o pileque, a droga
o azeite que não chega pra tanto acará
e cada acará(jé) não chega pra tanta gente
com fome
com sede e desejo de gente
que fala mal de mim
de ti
dos anjos e dos demônios
não chega pra cada gringo
pra cada argola de ouro
pra cada pernada, meia-lua, arrependido
macaco pulando aú
esbraveja e espuma a boca
cheia de sangue
a gola vermelha
degola de peixe
cabeço de amarração
bata o pandeiro, meu filho
que a noite já chega.
natimorta

Serena puta







eu quero a mão dessa mulher
eu quero essa mão de puta
na minha carne
nos meus sonhos
no meu delírio cotidiano
de homem-problema
com minhas diretrizes
e minhas atrizes
meu morfema
meu anteparo e antepasto
de capim, de notas musicais
meu salvaguardo e sinal flutuante
nesse mar de enjôos
e de sedentas mazelas
onde me molham
gotas de champagne e bourbon
e cachaças baratas
infusão de folhas
e um acarajé cheio
de pimenta
num olhar perdido
com vontade de comê-lo

como se come uma puta.









segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Tabu ou Esmalte Vermelho




Línguas de fogo
vermelho-vivo

fogo intermitente
meu olho não desgruda
não aquieta
afoga-se de calor
nesse trejeito de mão
nesse doido tiritar
dos dedos
- compridos tentáculos -
de ventosas rútilas
incandescentes
e indecentes
elas prendem-me
agarram-me pelos membros, pelos ombros
envolvem-me

e pelas costas
ferem-me a carne

em cortes vivos de brasa
em laivos de desejo.




quinta-feira, 30 de agosto de 2007

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

vigília





duas noites sem dormir...

um caco!!

um naco, um teco

de sono, um trapo,

farrapo sem casaco.






atalho






um curva.

é subida, claro!

você esperava o quê?

ali passam gentes

mãos e braços, corpos

pernas, bocas, corações

todos eles indigentes


terça-feira, 21 de agosto de 2007

a cadela




foi buscar a terrina

sentou-se sobre os quartos

levantou a pata dianteira direita

baixou um pouco a cabeça

ganiu baixinho, resfolegou

estava faminta

não podia nem andar direito

com as pernas fracas

mas estava ali,

obediente ao seu dono

cabisbaixa

feliz em ter uma mão forte

uma voz que a comandasse

não sabia mais porque aquilo

só sabia que estava com fome

eram os instintos gritando em sua alma

e seus desejos eram mais fortes que ela

e sua vida não lhe pertencia

seu dono chutou a terrina por duas vezes

estava irado

pegou uma tira de sola e deu no lombo

ardeu

outra e mais outra lambada

agora eram três lanhos nas costas

ele não sabia mais porque batia

ela, tinha certeza do porquê apanhava.





quinta-feira, 16 de agosto de 2007

após a ressaca




dia seguinte: hoje a vontade de sair continua a zero. embora a tevê esteja aqui bem perto eu não ligo. que fazer?


a pós-ressaca também é complicada.
as lembranças revisitadas.
os valores revistos e nada mudou. nada me fez melhor ou pior. apenas permaneço e a minha imagem se desgasta no espelho do banheiro. narciso, teseu, prometeu. nem sei mais quem sou. desejo ter ido à lua. o sol me chama mas o corpo se embriaga pela leitura e não se apresenta à rua. o melhor é que hoje, mais que ontem eu não lembro de nada. melhor. se não lembro é porque não fiz!
assim dizem os verbos, de maneira assaz convincente.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

ressaca

ai!
dor
dores
sono
enjôo, angústia, solidão, nervosismo, nariz entupido
a lembrança da amada que se foi ronda a mente enevoada e se mistura com o novo amor que será eterno e sempre mais puro que todas as coisas sobre a terra. sobre os passos que dou nessa terra suja que se entranha nas minhas unhas. eu. eu, bêbado? nem lembro onde estava e nem o que fiz. lembro que perguntaram-me se estava bem, se queria comer. deixaram-me piedosamente num táxi e foram embora. piedosamente?? que nada!! piedade é dinheiro no bolso e uma costela quente esperando na cama, a roupa de dormir ali, esperando também. esperando a roupa úmida de chuva e vento ser tirada da carcaça cansada de amores vãos e esperanças singelas nas tardes de sábado. Para onde, amigo? vou pra casa. resposta correta. onde? rua ... sabe onde fica? sim, ele sabia mas não respondeu. apenas um leve balançar de cabeça indicava seu pensamento. as luzes da cidade nada significavam naquela hora. nem as putas estavam mais na rua. tudo deserto e eu ali, naquele táxi, indo piedosamente para casa. tentava lembrar porque havia vomitado. vomitei mas não me sujei, era uma vantagem. não teria que lavar mais uma roupa. a cabeça ainda dói. não tenho ânimo para levantar e fazer aquele relatório que prometi fazer há dois dias. continuo a protelar essa tarefa. tento pensar em algo e apenas uns fragmentos na memória. acho que estou ficando velho. não bebo mais. merda, porque tem sido assim desde setembro do ano passado? antes eu bebia muito mais e não sentia essas coisas, apenas via as begônias na janela da vizinha e pronto. dormia, acordava e estava tudo em paz novamente. o coração começa a palpitar. mais um efeito colateral. acabaram-se os comprimidos. não tenho força de vontade para ir à farmácia. fica logo ali, na outra rua, mas o problema é ter que vestir uma roupa e pentear os cabelos. que infame. bem que eu poderia ser careca.
mas aí seria um drama. elas não gostam tanto assim dos carecas quanto nós dizemos. elas apenas fazem uso. duplo sentido. pronto, acho que agora estou melhor. quando não digo nada assim é porque estou mesmo muito mal. o telefone insiste em tocar e eu não atendo. é ela. mas também outras pessoas. não gosto de falar. ainda mais assim... ela merece, mas eu respondo por mensagens eletrônicas. ela me ama. eu a amo. não tenho dúvidas como tinha das outras. tenho admiradoras que dariam tudo por esse amor que sinto. mas não posso distribuir sentimentos como se fossem panfletos. somente ela merece. mas o que devo fazer com os sapatos? droga eles estão sujos e molhados. perdi um dia inteiro com dor de cabeça e sensibilidade à luz. não saio de casa. mas preciso sair. que drama! onde estive afinal?
não lembrarei jamais. mas se eu não lembro, é porque eu não fiz, assim dizem os verbos.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

saia verde


Dezessete horas. dezessete horas e quinze minutos. lá estava ela. diferentemente dos antigos encontros, hoje ela veio vestida com blusa verde oliva e saia. uma saia justa no quadril, reveladora de uma forma bastante agraciada na qual eu nunca havia reparado. nem os Verbos haviam reparado nisso. repararam hoje. uma saia que deixava entrever, pelo corte, suas pernas torneadas. pernas de loba que é, mas pernas bem formadas, firmes, fortes. usava sandálias altas e talvez isso ajudasse a formar um derrièrre mais pronunciado. do jeito que vira mania nacional. mesmo assim, não era uma saia devassa. sem maquiagem, como sempre. aliás, uma única vez veio com batom nos lábios. uma única vez a vi assim e era uma batom muito discreto. ela é muito discreta. casada. doutora. casada com um doutor. não, não é médica nem advogada. é doutora mesmo. doutora que recebeu doutorado em título de papel passado, sessão de fotos solenes e um drinque para comemorar (talvez um uísque envelhecido, bem forte, com um beijo no final). silenciosa como as águas no fundo do cânion, chegou e escreveu algumas coisas. li tudo. já conhecia aquelas palavras há meses. casada com um doutor. doutora. e eu ali, absorto e os verbos repararam na saia dela. não, eu reparei mas sem desejo. apenas com os olhos e a testa, sem o âmago biológico de homem. ela é casada. eu também sou. mas essa não é a questão. a questão é que nem eu e nem os Verbos havíamos reparado naquilo antes. já me falaram dos seios. volumosos. maduros. seios de loba. seios que eu nunca desejei pois sou casado e ela é uma doutora. de papel passado, tese, antítese, excelente conceito, banca examinadora e sei lá o que mais é preciso pra ser doutor. mas aquela saia esverdeada, feita de retalhos grandes do mesmo tecido fora uma surpresa. como uma simples peça bem-escolhida pode mudar uma loba comum em loba mortífera e silenciosa que anda pela mata ao entardecer? eu não disse isso. eu escutei uma voz a dizê-lo. eu apenas a vi. ela é uma doutora e eu sou casado. o problema é que os Verbos falam demais. e eu não disse nada. eu apenas vi a saia dela. os Verbos é que falaram dela e das suas pernas bem feitas. eu sou casado e não ligo pernas de loba. eu apenas ligo verbos.