terça-feira, 21 de abril de 2009

A ronda da Loba


Dezessete horas e quarenta minutos.
Hoje cheguei um tanto atrasado ao covil e a loba já estava lá, sorrateira. Não, hoje nada de saia verde. É bege. Ou cru, como querem os Verbos. Achei-a um pouco mais 'cheia'. Hoje meu olhar é menos poético. É mais realista no sentido não-literário da palavra.
Notei que há alguns 'defeitinhos' - próprios das mulheres reais - e vi-os de pronto. Gentil e serena como nos encontros anteriores; resolveu atender ao incômodo telefone móvel - deveras constrangida. A loba olhava-nos com um ar superior. Acuava-nos como se ela fosse muitas, em matilha e, nós, a maioria, fôssemos apenas um. Um único cordeiro assustado.
A mortífera loba caminhava ao entardecer por entre nossas mentes e olhos. Deixava-me, particularmente, paralisado. Enfim lembrei que é doutora. Sim, de papel passado e reconhecimento público lavrado em ata acadêmica.
O Verbo, transitivo, olhava-me e ria do meu temor e admiração. Eu, um bezerro, já quase novilho. Vítima potencial daquela loba.
Assim dizem os Verbos, oráculos das letras.

(2007)