quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Antes que o poema nos trague

vejo a rosa, toda prosa
em verso e canção
somente ela se rima em mim
e fala de cada coisa:
carne, perna, xadrez
apócope, cinema, coração
pesquisa, conhaque, alemão
imposto de renda
linguista, jasmim, catalão.


a rosa toda prosa e verso
rima em meu rosto olhares
palavras, afetos, venenos
dodecassílabos, monólitos, romanos
grécias e naus em pleno mar.


somente a rosa enfeitiça
sereia, ciclopes, palomas, gibraltar
tufões, clonagem humana
contagem de sílabas, hiatos
metrificação incompleta, síncopes.


a rosa não me sai do pensamento
ela inunda cada linha - a língua
cada barco - lexia - vira poesia
no mar de sua ciência.

como virão as horas amanhã?

quando nos teus cabelos perder meus dedos
e o perfume deles me embriagarem
e quando tua boca disser entre sussurros
o meu nome cercado de juras
quando nos teus olhos brilhantes a minha imagem
percorrer toda a retina até a macula luthea
quando, novamente, nestes cabelos negros
como o escuro da noite em meio ao mar sereno
estiver afundado e adormecido, saberás:
o guerreiro repousa ao teu lado
da mais fatigante e terna batalha
que mil vezes terás
que mil vezes vencerás
que mil vezes perderás
e de todas elas terás as lembranças
mais doces, cálidas
ou tórridas e viciosas
e pelas janelas irás procurar o dia
ou a penumbra e apenas verás as horas
que passaram voando com seus ponteiros
em forma de asas.