segunda-feira, 13 de agosto de 2007

saia verde


Dezessete horas. dezessete horas e quinze minutos. lá estava ela. diferentemente dos antigos encontros, hoje ela veio vestida com blusa verde oliva e saia. uma saia justa no quadril, reveladora de uma forma bastante agraciada na qual eu nunca havia reparado. nem os Verbos haviam reparado nisso. repararam hoje. uma saia que deixava entrever, pelo corte, suas pernas torneadas. pernas de loba que é, mas pernas bem formadas, firmes, fortes. usava sandálias altas e talvez isso ajudasse a formar um derrièrre mais pronunciado. do jeito que vira mania nacional. mesmo assim, não era uma saia devassa. sem maquiagem, como sempre. aliás, uma única vez veio com batom nos lábios. uma única vez a vi assim e era uma batom muito discreto. ela é muito discreta. casada. doutora. casada com um doutor. não, não é médica nem advogada. é doutora mesmo. doutora que recebeu doutorado em título de papel passado, sessão de fotos solenes e um drinque para comemorar (talvez um uísque envelhecido, bem forte, com um beijo no final). silenciosa como as águas no fundo do cânion, chegou e escreveu algumas coisas. li tudo. já conhecia aquelas palavras há meses. casada com um doutor. doutora. e eu ali, absorto e os verbos repararam na saia dela. não, eu reparei mas sem desejo. apenas com os olhos e a testa, sem o âmago biológico de homem. ela é casada. eu também sou. mas essa não é a questão. a questão é que nem eu e nem os Verbos havíamos reparado naquilo antes. já me falaram dos seios. volumosos. maduros. seios de loba. seios que eu nunca desejei pois sou casado e ela é uma doutora. de papel passado, tese, antítese, excelente conceito, banca examinadora e sei lá o que mais é preciso pra ser doutor. mas aquela saia esverdeada, feita de retalhos grandes do mesmo tecido fora uma surpresa. como uma simples peça bem-escolhida pode mudar uma loba comum em loba mortífera e silenciosa que anda pela mata ao entardecer? eu não disse isso. eu escutei uma voz a dizê-lo. eu apenas a vi. ela é uma doutora e eu sou casado. o problema é que os Verbos falam demais. e eu não disse nada. eu apenas vi a saia dela. os Verbos é que falaram dela e das suas pernas bem feitas. eu sou casado e não ligo pernas de loba. eu apenas ligo verbos.

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